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Introdução

A fundação do atual Luxemburgo está intimamente ligada à era pós-napoleônica, quando os estados-nação europeus começaram a ser reestruturados. No Congresso de Viena, realizado em 1815, Luxemburgo foi concebido como um estado-tampão entre as esferas de influência prussiana e francesa. Ao longo dos séculos, o tamanho e a forma do território de Luxemburgo variaram consideravelmente. Até 1839, o país consistia em duas regiões administrativas: o “quartier allemand”, de língua germânica, e o “quartier wallon”, de língua francesa. Essa localização nas fronteiras linguísticas germânico-românicas conferiu a Luxemburgo uma longa história de multilinguismo, que remonta à Idade Média. As variedades linguísticas germânicas, como dialetos do alemão central e alemão padrão, e as variedades linguísticas românicas, como dialetos valões e da Lorena, e o francês padrão, coexistem no país em um sistema multilinguístico. Após a criação do estado-nação em 1839, o antigo “quartier wallon” de língua francesa foi cedido à Bélgica, e o território de Luxemburgo até hoje é composto apenas pela área historicamente de língua germânica, é o que nos mostra o Professor do Departamento de Humanidades e Ciências Sociais da Universidade de Luxemburgo, Petter Gilles.

Alemães ou Luxemburgueses? A Descoberta de uma Ancestralidade Perdida

Quando exploramos a perspectiva histórica, antropológica e das ondas migratórias, nos deparamos com um fenômeno singular. A história da imigração dos luxemburgueses para o Brasil se entrelaça com a imigração alemã, principalmente da população proveniente da Renânia-Palatinado e do Sarre. Esse entrelaçamento deve-se não apenas à proximidade linguística e cultural entre os dois grupos, mas principalmente em virtude de sua localização geográfica. A maioria dos imigrantes luxemburgueses e alemães eram originários das áreas mais ao norte e ao leste do Grão-Ducado, especialmente do distrito de Diekirch.
Além disso, pesquisas realizadas pelo historiador Tony Jochem revelaram a existência de casamentos entre indivíduos de ambos os lados da fronteira antes mesmo de chegarem ao Brasil. Em diversos casos, também foram observados laços de parentesco próximo entre esses imigrantes, uma vez que muitas famílias chegaram juntas ao Brasil, em um curto intervalo de tempo, ou ainda se estabeleceram próximas umas das outras nas colônias de destino.

Principais Motivos que Levaram os Luxemburgueses a Migrarem para o Brasil entre 1828 e 1840

No período entre 1828 e 1840, aproximadamente 2.500 pessoas migraram para o Brasil, conforme revelado por uma pesquisa conduzida pelo historiador Claude Wey. Mas quais foram os principais motivos que impulsionaram esse grande êxodo? Questões econômicas e sociais desempenharam um papel fundamental nesse processo.
A região de origem dos imigrantes luxemburgueses indica que a maioria deles partiu da região norte de Luxemburgo, próxima ao Rio Mosela. Eram famílias que fugiam principalmente da fome e dos conflitos, assim como das disputas territoriais com os países vizinhos. Podemos identificar três ondas migratórias nessa história de imigração luxemburguesa para o Brasil.
A primeira onda ocorreu entre 1824 e 1828, como resultado de uma política estatal brasileira para atrair imigrantes europeus para o sul do país. Durante esse período, foram fundadas a colônia de São Pedro de Alcântara em Santa Catarina e a Colônia de Rio Negro, localizada na fronteira entre os estados do Paraná e Santa Catarina, que na época fazia parte da província de São Paulo. Nesse período, 323 famílias luxemburguesas tentaram emigrar para o Brasil, mas apenas 100 conseguiram chegar, enquanto as demais foram retidas no porto de Bremen, no noroeste da Alemanha. O historiador Claude Wey mostra que esse retorno causou grande tristeza nas famílias que voltaram, uma vez que muitos haviam vendido seus bens e propriedades para embarcar rumo ao Brasil. Ao chegarem de volta às suas aldeias, sem ter residência e excluídos da comunidade, esses luxemburgueses tiveram que estabelecer acampamentos temporários de barracas na região que hoje é conhecida como Nei-Brasilien.
A segunda onda migratória ocorreu entre 1845 e 1847 e foi marcada principalmente pelo estímulo à imigração, uma política adotada por Dom Pedro II durante o Segundo Reinado. Dessa vez, os navios partiram de Dunquerque, no norte da França, Antuérpia, na Bélgica, e Hamburgo, na Alemanha, em vez de Bremen. Essa onda migratória teve como foco a formação de pequenas propriedades rurais no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo, como demonstrado pelo historiador Mitsi Taylor em seu livro de 2017 sobre as primeiras colônias germânicas no Brasil.

O Impacto da Terceira Onda Migratória de Luxemburgueses no Brasil

A terceira onda migratória ocorreu entre 1855 e 1864, coincidindo com a Guerra Civil Americana, período em que a imigração luxemburguesa para os Estados Unidos foi interrompida. Ao mesmo tempo, as políticas migratórias brasileiras atraíram esse contingente populacional, principalmente por meio da Associação Central de Colonização, um órgão criado em 1855 e vinculado à Repartição de Terras Públicas. O objetivo era trazer agricultores e pessoas ligadas à indústria para o Brasil.
Nessa ocasião, a política brasileira visava atrair cinquenta mil colonos europeus para o país, estabelecendo uma parceria com a empresa Steinmann & Cia, responsável pelo transporte desses colonos para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Muitos luxemburgueses chegaram ao Brasil nessa leva, era uma população proveniente principalmente da Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo. No entanto, devido às condições precárias da viagem, a parceria com a Steinmann & Cia foi encerrada em 1863, e a Associação Central de Colonização foi dissolvida em 1864, conforme detalhado pelo historiador Eduardo Steiner em seu livro sobre a genealogia de algumas famílias pioneiras nas colônias de Itajaí.
A terceira onda migratória teve um impacto significativo, trazendo um número expressivo de luxemburgueses para o Brasil, especialmente para a região de Desterro, que posteriormente passou a ser chamada de Florianópolis. Conforme a pesquisa realizada pelo historiador Carlos Steiner, em seu artigo sobre a imigração luxemburguesa em Santa Catarina no século XIX, foi entre 1861 e 1863 que chegaram a Santa Catarina as famílias Bauler, Decker, Gomes, Heiderscheid, Herrmann, Jüttel, Kalbusch, Kammers, Kauffmann, Kempner, Kleis, Koch, Löwen, Lux, May, Meyer, Olinger, Perard, Pöring, Schapo, Schmidt, Schwinden, Theisges, Theissen, Turnes, Weber, Wilmes, Wilvert e Zwang.

Considerações

A imigração luxemburguesa para o Brasil apresenta um fenômeno complexo e singular, que pode ser analisado sob a perspectiva da História, da Sociologia e das Relações Internacionais.
Um dos pontos mais instigantes quando analisamos o movimento de reconhecimento e recuperação de nacionalidade que levou ao Brasil alcançar a incrível cifra de mais de 23 mil novos luxemburgueses em apenas 5 anos, é que a maior parte dos descendentes dos imigrantes luxemburgueses, acreditavam ter raízes alemãs. No entanto, dentro das comunidades alemãs, devido às especificidades culturais, em especial a língua luxemburguesa falada no ambiente familiar, eles eram considerados “alemães de segunda classe”.
Mas por que isso acontecia? A história linguística do luxemburguês também é uma história de emancipação de um antigo dialeto alemão para uma língua própria. O luxemburguês era considerado parte da área central dos dialetos alemães, e somente a partir da década de 1960 a fronteira do estado com a Alemanha foi conceituada cada vez mais como uma fronteira linguística.
Identificamos três ondas migratórias ao longo do tempo, cada uma com particularidades e motivações distintas. Fatores econômicos, sociais e incentivos governamentais impulsionaram a migração dos luxemburgueses, que buscavam escapar da fome e dos conflitos em sua região de origem.
A imigração luxemburguesa teve impactos significativos, especialmente na região de Desterro, posteriormente chamada de Florianópolis. As famílias que chegaram na terceira onda migratória contribuíram para o desenvolvimento das colônias e deixaram sua marca na história local.
No entanto, a plena integração da história da imigração luxemburguesa no Brasil ainda é um desafio. A construção de uma narrativa coletiva e a preservação da memória dessas famílias são fundamentais para compreender a identidade e a contribuição desses imigrantes na formação do país.
Portanto, por meio de estudos acadêmicos, pesquisas e esforços de preservação histórica, é possível aprofundar nossa compreensão sobre a imigração luxemburguesa no Brasil, valorizando a riqueza cultural e o legado deixado por essas famílias. Isso contribui para uma sociedade mais inclusiva e plural, que reconhece e celebra a diversidade de suas origens.
Gilles, Peter. Luxembourgish Dialect Classifications. Dialectologia. Special Issue, 10 (2023), 231-253. ISSN: 2013-2247
JOCHEM, Toni Vidal. A epopeia de uma imigração: resgate histórico da imigração, fundação da colônia Santa Isabel e emancipação político-administrativa do município de Rancho Queimado. Águas Mornas: Edição do autor, 1997.
STEINER, Carlos Eduardo. Genealogia teuto-catarinense 1. Origem e migração das famílias estabelecidas nas colônias Santa Isabel, Teresópolis e Itajaí (1847-1865). Campinas: Edição do autor, 2019a.
TAYLOR, Mitsi Westphal. Germânia. As emigrações e as primeiras colônias germânicas no Brasil. Florianópolis: Editora Secco, 2017.
WEY, Claude. Die Beziehungen Luxemburgs mit Portugal und Brasilien. vom 17. Jahrhundert bis 1960. Erschienen unter dem Titel „Heimat in der Fremde“. In: Lëtzebuerger Journal, No. 60, 26. und 27. März 2005.